- Tristeza nem sempre é o que parece.
Na tevê, Nei Lopes encerra entrevista cantando ‘Tristeza’.
"Tristeza. Por favor, vá embora. Minha alma que chora..."
A música é parceria de Haroldo Lobo com um compositor que assimilou o título passando a se apresentar como Niltinho Tristeza.
Lembro que cresci pulando 'Tristeza' nos bailes de carnaval. Não havia sintonia entre a letra e a alegria dos foliões, mas pessoa alguma parecia se importar com aquilo e - de braços abertos - o salão berrava:
"Já é demais o meu penar. Quero voltar àquela vida de alegria. Quero de novo cantar."
'Tristeza' é uma negação do carnaval e um dos compositores - ao ter como aposto esse título - é tão estranho quanto um médico que se apresentasse como Mário Matador ou um advogado: José Carcereiro ou uma psicóloga: Sandra Psicótica, personagem que criei no rádio e era interpretada por Leila Miranda.
'Tristeza' continua firme e levanta o público nos shows de samba, nos blocos ou em rodas de samba. Parece que o público gosta dessa distância entre o que diz a letra e a alegria de quem canta. Como alguém sufocado pela tristeza pode ter tanto ânimo? Um mistério - talvez - sem explicação.
Por isso, já que atravessamos tempos complicados, precisamos cantar não só 'Tristeza, por favor, vá embora.' Mas 'Estresse, vê se desaparece.'; 'Ansiedade, largue meu pé';'Síndrome do Pânico, me deixe.'; 'Depressão, quero te ver pelas costas.'.
Quem sabe nos livramos dos antidepressivos e das noites de angústia?
Quem sabe a gente consiga assim atravessar tempos de ações e declarações infelizes que sinalizam o atraso do país?
Basta cantar com alegria a tristeza que se carrega para aquietar nossa inquietação.
E lá vamos nós sambando por aí. Afinal, sambar como sonhar não custa nada.