- Robin Hood caboclo
No Brasil, há lendas de bandidos sociais inspirando simpatia. Figuras comparadas a Robin Hood que roubariam sim, mas dos ricos para dar aos pobres. Como ser pobre no Brasil representa o Bem enquanto o rico é a personificação do Mal, tais ladrões tinham uma boa causa despertando admiração e o roubo perdoado.
Lampião é um deles embora exista a informação de que fosse uma figura cooptada pelos poderosos e tenha recebido proposta de anistia com patente de capitão se combatesse a Coluna Prestes. Há relatos do cordelista Raimundo Santa Helena - cujo pai morreu combatendo Lampião – retratando a crueldade do cangaço. Mas a imagem que ficou é de um herói preocupado com os mais humildes e pronto a enfrentar os que exploravam o povo.
Bandidos roubavam caminhões de leite e levavam os veículos para as favelas onde o produto era distribuído entre as crianças famintas. Depois, pagavam enterros, promoviam festas, espalhavam luxo e conforto. “Seja marginal!” gritava o artista em plena ditadura. Esse comportamento seria uma forma de afrontar a repressão política. Mais ainda: o ladrão não roubava, mas resgatava o que tinha sido tirado dele. Na verdade, era o “cobrador” batendo à porta do rico para pegar de volta o que lhe pertencia. Como a exploração fazia com que ele sequer distinguisse rico de classe média e suas variações (alta e baixa), passou a roubar todas as classes sociais.
A ineficiência do Poder Público fez com que se recorresse ou aceitasse a proteção do tráfico. Corria um boato de que o “dono do movimento” proibira furtos, assaltos e violência contra a população na jurisdição dele. Portanto, não se precisava da Polícia arbitrária, violenta e preconceituosa. Em muitas áreas, a segurança e tranquilidade estavam garantidas pelo poder paralelo do bandido.
Assim, chegamos a esse ponto de total descontrole, tempo em que até se especulou um “acordo de paz” com a marginalidade. Bastaria se sentar à mesa com um líder criminoso preso numa penitenciária federal. A proposta foi endossada por alguns que lembraram a Colômbia e a guerrilha de lá. Só ainda não sabemos a consequência desse acordo colombiano porque o narcotráfico vai mandar a conta em breve.
Desconheço a solução para a grave crise de insegurança no Rio e no país. Sei que não é a volta da ditadura nem pena de morte, exclusão de ilicitude ou extermínio de excluídos. É bom lembrar isso para que não distorçam meu pensamento. Mas tenho certeza de que não é transigindo com bandido que se ganha essa luta. Principalmente, porque nada se fez diferente disso até hoje.
