Jura-me
María Grever foi uma compositora mexicana que, entre tantos sucessos, é autora também de Jurame, um bolero arrebatado (não confundir com arretado) que fala de uma criatura apaixonada ao extremo. Na letra, o sujeito garante que os outros nunca o viram tão apaixonado. É uma dessas paixões que fazem ciúmes só de imaginar que a pessoa amada pode se recordar de outro alguém.
Jurame tem uma versão de Ariowaldo Pires e gosto da gravação da Ângela Maria com Agnaldo Timóteo que declama no meio da música. Não faço comparação, mas me lembrei de ''Amor I love You'' com Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
A canção encanta durante tantos anos porque fala desse amor com toque definitivo, grande sonho que, através da história, a humanidade vem chamando de 'amor eterno' mesmo que seja naufragado na morte como em Romeu e Julieta ou retomado na velhice igual a 'Amor em Tempos de Cólera', de Gabriel Garcia Marques.
As músicas de amor não podem ser mornas ou não são do amor verdadeiro, aquele que faz o coração descompassado, o tempo se arrastar quando se está longe do ser amado e passar rápido quando os dois estão juntos. Canções de amor precisam ter o pedido contido em Jurame:
"Beija-me com um beijo prolongado como nunca fui beijado desde o dia em que nasci.".
Não vale só encostar os lábios nem trocar as línguas. É preciso desafiar a lógica e o inacreditável.
As verdadeiras canções de amor têm de lembrar que sem sofrimento não existe paixão que, ao contrário da simpatia; não pode ser quase; tem de ser mesmo amor. Sei que uma parcela significativa que faz terapia achará um absurdo mas o pessoal que trata da cabeça não vale porque canções como Jurame são o avesso de quem procura sanidade. Afinal, no trecho de encerramento, a letra pede:
"Ama-me com fervor e com loucura. E assim verás a amargura que estou sofrendo por ti."
É claro que a noção de posse no amor está ultrapassada e a falta de limite idem. Porém, o afeto transbordando em Jurame.... cá entre nós... pode doer mas.... que é gostoso... é.
