- Amigo Ciro
Ciro Monteiro (1913-1973), cantor de samba com jeito único que se acompanhava batucando numa caixa de fósforo, tinha o costume de presentear os filhos de amigos com a camisa do Flamengo, time pelo qual torcia fervorosamente. Quando uma das filhas de Chico Buarque nasceu, Ciro mandou o presente e recebeu uma resposta musical do compositor tricolor.
lmo Sr. Ciro Monteiro Ou Receita Pra Virar Casaca de Neném
“Amigo Ciro /Muito te admiro O meu chapéu te tiro /Muito humildemente /Minha petiz Agradece a camisa que lhe deste à guisa /De gentil presente./Mas caro nego/Um pano rubro-negro/É presente de grego/Não de um bom irmão/Nós separados Nas arquibancadas Temos sido tão chegados Na desolação”
E Chico segue dizendo que não desprezou completamente o recebido, mas dera na camisa uma mudança.
“Amigo velho/Amei o teu conselho/Amei o teu vermelho /Que é de tanto ardor/ Mas quis o verde Que te quero verde/ É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor/ Pintei de branco o teu preto/ Ficando completo /O jogo da cor /Virei-lhe o listrado do peito/ E nasceu desse jeito/ Uma outra tricolor.”
Doralice e Silvia Duffrayer, a última; vocalista do “Samba que elas querem”, responderam com uma paródia ao samba de Toninho Geraes gravado por Martinho da Vila.
"Sou mulher, sou dona do meu corpo e da minha vontade / Fui eu que descobri prazer e liberdade".
No final, a letra lembra que ela se basta e afirma que “é tudo que sonhou para mim.”.
Cacau Fernandes e Gabi Kivitz, compuseram uma música que serviu de resposta ao prefeito do Rio quando ele insinuou ignorância em relação ao futebol por parte das mulheres.
“Qual é, qual é? / Futebol não é pra mulher? / Eu vou mostrar pra você, mané / Joga a bola no meu pé.”
Tudo isso leva ao especial de Natal do Porta dos Fundos que fez ressurgir censura, ofensas e até uma agressão com bomba no prédio da produtora. Quando não se concorda com uma ideia expressa em música, livro, filme ou qualquer manifestação artística; faz-se outra. Não é preciso ter o talento do Chico, da Doralyce, da Silvia Duffrayer, da Cacau Fernandes ou da Gabi Kivitz. Basta ter educação e respeitar a convivência de opostos, prática comum nas democracias que parece esquecida ultimamente no Brasil.
