- A gente não quer só......
Todo político quando acusado alega estar sofrendo perseguição. As evidências são claras, as provas incontestáveis, mas o sujeito é vítima de uma perseguição política. Afinal, o governo dele priorizou os mais pobres. Político brasileiro sempre governa para os pobres, pensando nos desfavorecidos, naqueles que nunca nada se fez a favor deles. Interessante é que, mesmo tão defendidos na política nacional, o número de pobres no país não para de crescer.
Políticos gostam de prioridades. Cultura, por exemplo, não é prioridade. Por isso, tanto ódio aos artistas que se beneficiam de algum incentivo para suas atividades. Afinal, o país não tem Educação, Saúde, Segurança, como vai gastar dinheiro com show ou cinema? Na cabeça de parcela do eleitorado, incentivado por candidatos, o dinheiro (mesmo não saindo diretamente do cofre público como o da Lei Rouanet) tem de ser direcionado para o essencial, aquilo que faz parte realmente das prioridades.
Para que direitos se o importante é ter emprego? O que o povo prefere: carnaval ou hospital? Futebol ou escola? Policiamento nas ruas ou Jardim Botânico? Geralmente, nessa conversa de prioridades, não há investimentos nem nas prioridades nem nos supérfluos e o povo mesmo fica sem emprego, direitos, futebol, escola, hospitais......
“Os Titãs” abordaram o assunto muito bem em "Comida":
“Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? /A gente não quer só comida / A gente quer comida /Diversão e arte/A gente não quer só comida /A gente quer saída /Para qualquer parte.....”
O prato de comida é fundamental, mas todos têm o direito de conhecer uma ópera, por exemplo. Principalmente, para descobrir que várias músicas populares beberam nessa fonte. Cadê o direito de conhecer Cervantes, Camões, Machado de Assis, Shakespeare e textos que – ao contrário do que repetem - não são difíceis de entender. Há uma elite que guarda só para ela o saber e não aceita dividir esse prazer com quem não é da classe dominante. Para os poderosos, o conhecimento. Para os outros: angu e cale a boca porque , como em “Macunaíma” de Mário de Andrade:
“Para você está muito bom!”
Tem gente que cai nesse papo de prioridades. Afinal, num país onde não tem hospital ver uma peça teatral bem produzida é quase como beber um vinho desses que quem ganha salário médio teria de trabalhar a vida inteira sem férias para comprar uma garrafa.
Nem só de pão viverá o homem está escrito em Mateus 4:4. Nestes tempos quando tantos pregam a verdade bíblica, esse trecho lembra que a gente não quer só comida e tem o direito de reivindicar muito além das prioridades.
